quinta-feira, 3 de abril de 2008

Reflexões III


Acabou o amor, o carinho?
Mais do que uma dúvida, muitas vezes parece um lamento.
As expressões mais comuns são: «Como é possível que já tenha
acabado o amor?!»; ou, o que é pior: «Mas por que durou tão
pouco o seu amor?!»
Aqui, normalmente há uma diferença na forma de focar a
situação, consoante se trate de um homem ou de uma mulher.
Sem pretender generalizar, a maioria dos homens assume com
menos resistências esta possibilidade. A sua natureza biológica,
muito diferente da da mulher, leva-os a aceitar mais rapidamente
que o amor pôde terminar. Eles costumam viver essa primeira
fase de enamoramento, que por vezes confundem com paixão,
com grande intensidade; mas também se esvaziam com
maior facilidade. Certamente, os milhares de anos de história,
em que as funções que os homens e as mulheres realizavam eram
muito diferentes, condicionaram fortemente as suas emoções e
sentimentos em relação ao amor.
O homem dedicava-se habitualmente à guerra ou à caça,
enquanto que a mulher cuidava da família e cultivava o campo.
Neles tudo era acção, rapidez, força, luta, vitória, derrota, partidas,
chegadas e recomeços. Nas mulheres predominava a atenção,
a observação e o cuidado da prole e do resto da família, a
paciência, a perseverança, o trabalho contínuo e em silêncio... e
a longa espera do homem.
Não devemos pensar que a marca que deixou em nós a conduta
realizada durante milhares e milhares de anos desaparece
da nossa base biológica em poucas décadas. Neste sentido, é
paradoxal a pouca importância que se concedeu a este facto por
parte da educação que recebemos; como é possível que mal nos
tenham informado sobre estas profundas diferenças, que marcam
em grande medida a vida e os sentimentos dos homens e
das mulheres?
Alguns aspectos parecem-nos tão evidentes que ninguém os
põe em dúvida. Por exemplo, todos assumimos que os homens
têm mais força física do que as mulheres, mas por que não sabemos
claramente que os homens e as mulheres sentem o amor de
maneira diferente? Cuidado! Não estou a dizer que uns o sentem
com maior ou menor profundidade, mas sim que o vivem
de forma diferente.
Tal como a nossa sexualidade é diferente, quando surgem as
dúvidas nas relações amorosas ou afectivas, a nossa vivência
também é díspar.
Se o homem identificou amor com pulsão sexual, quando
esta diminui com a passagem do tempo, ou porque ocorreram
uma série de circunstâncias que condicionaram essa relação,
pode pensar que já acabou o amor e, por conseguinte, muda a
sua conduta ou as suas manifestações.
As mulheres têm mais dificuldade em assumir que o amor
acabou, porque o sentem de maneira diferente. Salvo certos
casos, e em determinadas idades, para a mulher a sexualidade
será mais um componente do amor, mas não o único, e muitas
vezes nem sequer será o elemento crucial.
A afectividade também é diferente e a mulher será especialmente
sensível às manifestações de carinho, aos cuidados, aos
mimos, atenções e pormenores por parte do seu parceiro. Para a
mulher, o facto de sentir a ausência destas manifestações significa
que ela ainda as espera; as suas dúvidas e angústias surgem
ao constatar que o seu parceiro não parece sentir essa necessidade
ou, o que por vezes é pior, não parece ser consciente de que
ela está a sentir-se mal.
Começam então as divergências insuperáveis e, sem querer,
surgem as sementes do desencontro.
A mulher, longe de pensar que o homem sente o amor de
outra forma e manifesta-o de maneira diferente, começa a pedir
e a exigir essas manifestações afectivas que tanto anseia e que
nela estão unidas ao facto de sentir amor.
Frequentemente, o homem fica surpreendido e sente-se constrangido
a ter deteminadas manifestações afectivas que lhe são
difíceis, pois muitas vezes não lhe surgem de forma espontânea.
Por outro lado, o facto de se sentir «quase obrigado», longe
de estimulá-lo ou de aproximá-lo afectivamente, provoca-lhe
repulsa e distanciamento.
As dúvidas sobre se acabou o amor ou o carinho muitas
vezes não ocorreriam se ambos, homens e mulheres, conhecessem
perfeitamente a forma de viver o amor de uns e outros; se
soubessem pormenorizadamente as distintas fases que atravessam,
a sequência de manifestações afectivas que se vão realizando,
como podemos estimulá-las, o que faz que esse amor
cresça todos os dias, o que o destrói, o que o potencia, o que o
arruina...
(continua)

Com certeza que te identificas com isto A.R...
Dá que pensar, não dá?
Faz-te lembrar algo?
Tenho saudades tuas!

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